Mentiras e Pós-Verdade no País das Maravilhas



Uma das estratégias adotadas pelo atual chefe do executivo brasileiro (sempre ele!) é a de criar polêmicas a cada momento para manter-se em evidência e inflamar seus seguidores a defendê-lo, mantendo-os assim, permanentemente mobilizados.
Algo que poucas pessoas compreendem é como estes seguidores (os famosos bolsominions) apoiam atos incoerentes até mesmo com o discurso que o elegeu, como nomear condenados ou indiciados para postos no executivo e em conselhos ou fazer barganha para comprar votos de deputados por meio da liberação de emendas parlamentares (que devem ser obrigatoriamente pagas, mas que o governo pode postergar).
Analisando experiências passadas, podemos observar o quanto a base de apoio da presidente Dilma derreteu em meses quando ficou evidente que o governo seria diferente do discurso de campanha.
Os eleitores esperavam pleno emprego, crescimento econômico, manutenção de direitos e menos desigualdade. Dilma nomeou um ortodoxo para a economia e acenou ao mercado com uma agenda de ajuste fiscal, reformas e austeridade.
Neste caso, a popularidade se rendeu aos fatos.
Já com Bolsonaro, o fenômeno é outro. Como pudemos acompanhar no noticiário da última semana, o presidente abusou de falas agressivas e preconceituosas, espancou os fatos, censurou órgãos técnicos do governo sobre aumento vertiginoso do desmatamento na Amazônia, mentiu sobre a morte do presidente da OAB (que ocorreu durante a ditadura militar iniciada em 1964), desqualificou os trabalhos da comissão da verdade e trocou os membros da comissão sobre mortos e desaparecidos políticos por pessoas alinhadas à sua interpretação dos fatos.
O caso do desmatamento da Amazônia é um perfeito exemplo do modus operandi: negou fatos verificáveis por meio de imagens de satélite, acusou os responsáveis pela apuração de atuar para abalar a imagem do governo e do país no exterior, não explicou quais sãos os dados corretos (para ele e para o ministro da área) que norteiam as ações de governo, não explicou o que tem feito para impedir a devastação do principal bioma brasileiro (talvez pelo fato de que, além de não fazer nada para evitar, seu governo ainda fomenta a devastação) e demitiu o diretor de um respeitado órgão governamental.
Em meio a tudo isso, a sociedade parece anestesiada. Só se manifestam aqueles que já estavam contra o governo.
Há mais de uma explicação.
Para parte da classe média e da elite econômica, há uma tolerância a estes deslizes autoritários justificada pela expectativa das reformas e da retomada do crescimento econômico.
Para os demais, é possível evocar o tão repetido conceito de "pós-verdade", que se refere ao processo no qual a opinião pública reage mais aos apelos emocionais vinculados a uma informação do que às evidências dos fatos.
Boa parte das pessoas hoje quer ouvir que a liberação de armas vai aumentar a segurança do cidadão comum, que aquecimento global é uma fantasia criada pela esquerda para impedir o progressos econômico do país, que a atuação do homem ( principalmente do agronegócio e da mineração) não tem impactado nas mudanças climáticas, que as críticas ao desmatamento são feitos por países ricos que desejam nossas matas, que os índios são vagabundos que impedem a exploração de nossas riquezas naturais ... e por aí vai.
Isso é facilitado pela proliferação das mídias sociais que, em tese, democratizaram a comunicação na sociedade, uma vez que permitiram a qualquer pessoa difundir sua própria interpretação dos fatos.
O problema é que esta tendência levou as pessoas a abrigarem-se em informações incorretas (sem processo de pesquisa e checagem dos fatos) que são bastante confortáveis e convenientes, desqualificando estudos, especialistas e órgãos de imprensa que coloquem em cheque suas verdades de estimação.
Desta forma, são facilmente manipuladas pelas máquinas de fake news, pelos influenciadores digitais desonestos intelectualmente e pelas mentiras e falácias do presidente e de seus acólitos.
Esta é a era da ignorância.


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