Em um mês em que o mundo ficou menos reflexivo e divertido, com a perda de Quino, nosso genial hermano, que, entre outras coisas, foi o criador da Mafalda, sua arte nos remete a um dos falsos paradigmas da sociedade atual.
Até os anos 80, vivíamos em um mundo polarizado em que a divergência ideológica era tratada com violenta repressão em quase todo o mundo.
Após a queda da URSS e do muro de Berlim, tornou-se muito comum analisar que os conflitos ( legítimos) entre classes e mesmo entre países explorados e neoimperalistas acabaram. O Capitalismo Liberal venceu e estabeleceu a verdade sobre tudo.
Falar de burguesia, proletariado, imperialismo virou algo ultrapassado, de gente que não percebeu que mundo mudou.
Como dizia um estimado professor: "mudou para quem, cara pálida?"
Miséria, opressao às minorias, exploração das nações pobres, fome, machismo, racismo, LGBTfobia, crimes ambientais, tudo está aí.
Como pode não haver mais conflitos se nações ricas desrespeitam a soberania das demais por conta de seus interesses econômicos e geopoliticos?
Um exemplo banal destas incongruências é o dos empresários que buscam enfraquecer os sindicatos, estimulando a negociação direta entre empregados e empregadores, negociações em que só os empregados cedem, aliás. Pois estes distintos cavalheiros são os primeiros a promover entidades, sindicatos patronais e institutos, que usam o poder econômico para influenciar as decisões do estado ( isto sem falar nos trustes e cartéis) e o comportamento da sociedade.
Em suma, este discurso de que a ideologia acabou é estratégia pura de quem não quer perder o poder.
Octavio Carvalho - Jornalista
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