Existe jeito certo de votar?



Estamos às vésperas do primeiro turno das eleições. Este certamente é assunto da maioria das conversas e programas de tv/rádio, bem como conteúdo de postagens em mídias sociais no momento.
Contudo, o fato de abordarmos o tema não nos torna, automaticamente, uma sociedade consciente e politizada.
É indiscutível que a política em si (não apenas o processo de votação) tem grande impacto em cada aspecto de nossas vidas, o que desperta intensas emoções em muitos de nós. Há quem compare a afiliação a alguma corrente ideológica (conservadorismo, liberalismo, socialismo, comunismo...)com a religião, tal a forma como nos relacionamos com a política e expressamos nossas preferências.
Nos últimos anos, com a ascenção do petismo e, posteriormente, do bolsonarismo, estas manifestações foram levadas ao extremo e mobilizaram cada vez mais pessoas (ainda sem entrar no mérito, julgar as manifestações ou mesmo propor falsas equivalências entre os lados, estamos falando apenas dos fenômenos).
Contudo, este engajamento não é algo realmente generalizado. Há um grande volume de pessoas alheio a tudo isso, preocupando-se apenas com seu contexto pessoal ou familiar, com trabalho, diversão, relações pessoais mais próximas.
Ainda que a política seja um fenômeno da sociedade, a adesão a ela e a forma desta adesão são decisões individuais.
Aí resta a dúvida: existe forma certa de se manifestar ou fazer escolhas políticas? É válido escolher não participar do processo decisório e das manifestações políticas? Existe lado certo para aderir?
Obviamente não. As escolha políticas devem se dar de acordo com os interesses, valores e objetivos individuais. O que não existe é uma fantasia que alguns segmentos da sociedade defendem,com o objetivo de excluir parte dos cidadãos do processo: "políticos e partidos são todos iguais, eles só querem roubar, sua manifestação ou voto individual não vale nada, o sistema não funciona, ou, ainda a solução é estado mínimo e votar em 'não políticos'".
A política é uma forma organizada de conduzir os diferentes interesses da sociedade para um processo de decisão. 
Quem defende estado mínimo, menos impostos, o faz porque isso é melhor para seus interesses (em geral de quem já possui dinheiro, consegue garantir uma vida segura e confortável e deseja ter mais autonomia na vida em sociedade e contribuir menos com os interesses coletivos). 
Contudo, o processo político e de convencimento leva pessoas que não estão neste contexto a aderirem a esta linha de pensamento (com ou sem consciência) mais vinculado à direita do expectro.
Quem defende que a sociedade seja mais igualitária e que o estado corrija distorções, de forma a buscar "justiça social" e igualdade de opertunidades (seja por regulação do estado, seja por um processo revolucionário), normalmente é quem é menos favorecido pelas regras/instituições da sociedade atual (ainda que exista adesão de pessoas  com mais renda e com melhores condições sociais - excepcionalmente).
As definições acima são absurdamente simplistas, apenas para ilustrar que o mais importante é ter consciência do que se está fazendo, ter certeza de que nosso voto e nossas manifestações são coerentes com nossos valores e interesses (individuais e coletivos), desconfiar sempre das mensagens que recebemos, não aderir a um comportamento de manada, não seguirmos cegamente a ninguém (nem às nossas convicções) sem reflexão constante.
Voto útil é válido, voto somente ideológico é valido, votar em branco/nulo é válido, mas tudo isso são formas de posicionar-se e haverá consequências.
Não votar ou não escolher é uma forma de legitimar a desição majoritária e abrir mão de um direito e da representação dos seus interesesses (sim, quando deixamos de votar,  não nos eximimos de ter responsabilidade pelo que nos acontece).
Como exemplo prático, neste 02 de outubro, é fundamental que conheçamos os candidados, os papéis dos cargos aos quais eles concorrem e também como funciona a sociedade (votar em deputados e senadores que pensam o oposto do que nossos candidatos a governador e presidente defendem é um direito, mas, ao mesmo tempo, é sabota-los e impedir que consigam cumprir suas promessas; votar apenas por conta de amizade/fama/troca de favores/orientação de líderes - religiosos ou não - pode ter um preço elevado no futuro, em decisões relevantes).
Não existe jeito certo, mas consciência é fundamental para não sermos massa de manobra.


Octávio Carvalho - Jornalista

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